segunda-feira, 7 de novembro de 2011

2. Primeiro sonho com Charles de Gaulle

Ao entrar no avião, Osvaldo Aranha passou em rápida revista todos os sonhos envolvendo viagens que tivera nos últimos tempos, a começar por aquele em que, tendo visitado a minha família na Amazônia, embarcou numa espécie de ônibus espacial, uma aeronave que decola na vertical e gira em torno do próprio eixo como meio de adquirir momentum. Estávamos todos a comer salgadinhos quando metade da coisa explodiu, mas a viagem continuou como se nada fosse. Naturalmente, chegamos à França com quinze minutos de atraso. Charles de Gaulle nos esperava sobre a pista, dentro de um carro elétrico, olhos e braços bem abertos. Não lembro nada mais, exceto que perdi o ônibus para a viagem do aeroporto ao 11e arrondissement.
       Esse foi um sonho bom, mas não o melhor da categoria. O melhor fora o da noite anterior. A viagem propriamente dita não se consumara; toda a ação transcorria no percurso da minha antiga casa até São José dos Pinhais, um caminho com que me julgava acostumado o suficiente para percorrer de olhos fechados e que, de olhos fechados, revelou-se antes um labirinto prazeroso. Tendo me perdido, desisti de chegar; cheguei de todo modo; um amigo de infância me esperava no saguão dubiamente luxuoso, e se tornou uma garota a meio caminho para não sei onde.

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